sexta-feira, 20 de maio de 2011

MANIFESTAÇÕES, ASPECTOS, CAUSAS PROVÁVEIS E REPAROS EM REVESTIMENTO


Podemos observar nas edificações os seguintes fenômenos, prejudiciais ao aspecto de paredes e tetos:

a- a pintura acha-se parcial ou totalmente fissurada, deslocando da argamassa de revestimento;

b- há formação de manchas de umidade, com desenvolvimento de bolor;

c- há formação de eflorescência na superfície da tinta ou entre a tinta e o reboco;

d- a argamassa do revestimento descola inteiramente da alvenaria, em placas

compactas ou por desagregação completa;

e- a superfície do revestimento apresenta fissuras de conformações variada;

f- a superfície do revestimento apresenta vesículas com deslocamento da pintura;

g- o reboco endurecido empola progressivamente, deslocando do emboço.


Estes fenômenos podem se apresentar como resultados de uma ou mais causas, atuando sobre a argamassa de revestimento; tais como:

a- tipo e qualidade dos materiais utilizados no preparo da argamassa de revestimento.

b- mau proporcionamento das argamassas;

c- má aplicação de revestimento;

d- fatores externos ao revestimento;

Todos os tipos de danos de revestimento tem importância do ponto de vista da
economia e satisfação do usuário.

À preocupação do usuário com o custo do reparo do revestimento deve-se acrescentar a sensação desagradável do mesmo precisar coexistir com um ambiente visualmente antiestético.

ANÁLISE DAS CAUSAS

Causas decorrentes da qualidade dos materiais utilizados

Agregados

Em nosso meio é utilizada, como agregado, a areia natural essencialmente
quartzosa. São particularmente prejudiciais impurezas tais como: aglomerados argilosos, pirita, mica, concreções ferruginosas e matéria orgânica. Dos efeitos observáveis, a expansão pode ser resultante da formação de produtos de oxidação da pirita e das concreções ferruginosas - sulfatos e óxidos de ferro hidratados, respectivamente - de hidratação de argilo-minerais montmoriloníticos ou de matéria orgânica. 


A matéria orgânica pode ser a causa de formação de vesículas esporádicas; no interior de cada vesícula observa-se um ponto escuro.

A desagregação do revestimento, por sua vez, tem como causa a presença de torrões argilosos, com excesso de finos na areia ou de mica em quantidade apreciável. A mica pode também reduzir a aderência do revestimento à base ou de duas camadas entre si.

Cimento

Não existe inconveniente quanto ao tipo de cimento, mas sim, quanto à finura que regulará os níveis de retração por secagem. A retração nas primeiras 24 horas é controlada pela retenção de água que, por sua vez, é proporcional ao teor de finos. Mas, em idades, maiores, a retração aumenta com o teor de finos. 

De modo a contornar o problema, costuma-se adicionar aditivo incorporador de ar à argamassas de cimento, exceção feita à de chapisco. Outra alternativa é a da adicionar-se cal hidratada que aumenta o teor de finos, melhorando a retenção de água e trabalhabilidade do conjunto.

Cal

A produção de cal virgem e de cal hidratada e o endurecimento da argamassa
pertence a um ciclo de reações que se inicia pela decomposição do constituinte principal da matéria-prima, o carbonato, terminando pela sua regeneração no endurecimento da argamassa, como resultado da ação do anidrido carbônico do ar.

A etapa intermediária, de hidratação da cal virgem, dá-se por uma reação contínua, cuja velocidade depende das condições de calcinação da matéria-prima. Comparativamente, a cal virgem dolomítica tem velocidade de hidratação mais lenta. Quando esta reação não é completa durante a extinção em fábrica, pode continuar após o ensacamento, durante o amassamento e após a aplicação da argamassa. 

O inconveniente é o aumento de volume que acompanha a reação de hidratação. A hidratação retardada é a responsável pelo rasgamento do saco quando a cal é armazenada por tempo prolongado.

Se utilizada logo após a fabricação, o aumento de volume causa danos ao
revestimento, mais propriamente na camada de reboco, com efeitos diferentes, quer se trate do óxido de cálcio de magnésio presentes na cal. Existindo óxido de cálcio livre, na forma de grãos grossos, a expansão não pode ser absorvida pelos vazios de argamassa e o efeito é o de formação de vesículas, observáveis nos primeiros meses de aplicação do reboco.

Ao ser a hidratação do óxido de magnésio muito mais lenta, ela se dá simultaneamente à carbonação. O revestimento endurecido empola gradativamente deslocando-se do emboço.


Observar-se que o empolamento e mais localizado em regiões onde há maior 
incidência do sol ou de aquecimento por fontes quaisquer (fogão, aquecedores, tubulação água quente). 

Causas decorrentes do traço da argamassa 

Argamassa de cimento 

A primeira camada do revestimento é constituída pelo emboço, cuja função éregularizar a superfície da base; como já visto, para que essa camada seja suficientemente elástica deve conter cal e cimento em proporções adequadas. Observam-se fissuras e deslocamento quando esta camada é excessivamente rica em cimento (proporção 1:2 em massa, por exemplo), condição agravada quando aplicada em espessura maior de 2 cm. 

Argamassa de cal 

O endurecimento é resultante da carbonatação da cal. Assim sendo, a resistência da argamassa é função de uma proporção adequada, areia, cal e decondições favoráveis à penetração do anidrido carbônico do ar atmosférico através de toda a espessura da camada. 

Em camadas pouco espessas como as de reboco, a carbonatação é favorecida pela pequena espessura da camada, mas desfavorecida por uma porosidade baixa resultante de uma argamassa rica em finos, procedentes tanto do agregado como do aglomerante. 

Podemos considerar como argamassa rica a que contém proporção cal-areia, em massa superior a 1:3. Com relação ao agregado é desaconselhável a utilização de argamassa de saibro.



A figura nos mostra a desagregação de um revestimento de uma única camada
com espessura fora de especificação, construída de saibro e cal, com a agravante de ter sido aplicado sem chapisco sobre blocos de concreto. Para as camadas de 2cm aproximadamente ou mais, como as de emboço, é aplicada a utilização de cimento e cal.

Uma argamassa magra tem porosidade favorável à carbonatação mas não tem a resistência suficiente para manter-se aderente ao emboço ou à alvenaria, quando aplicada como revestimento em uma única camada. Constata-se casos de deslocamento acompanhado de desagregação, para argamassa de 1:16 ou ainda para proporções maiores.

Causas decorrentes do modo de aplicação do revestimento 


Aderência à base
Independentemente do número de camadas de argamassa aplicadas, ou da qualidade dos materiais empregados, é essencial que existam condições de aderência do revestimento à base.


A Figura nos mostra o deslocamento de revestimento aplicado sem chapisco. A
aderência se dá pela penetração da nata no aglomerante nos poros da base e endurecimento subseqüente. Consequentemente, vai depender da textura e da capacidade de absorção da base, bem como da homogeneidade dessas propriedades.

Assim, pode apresentar problema de aderência, uma camada do revestimento
aplicada sobre outra impregnada de um produto orgânico, o qual impede a penetração da nata do aglomerante. Cita-se, como exemplo, uma superfície de concreto impregnada de desmoldante ou uma camada de chapisco contendo um produto hidrofugante.

Outra causa a ser citada é a ausência de rugosidade da camada da base.

O revestimento mantém-se aderente nas regiões correspondentes às juntas do
assentamento. Sendo a área dessas juntas relativamente pequena, o revestimento acaba por descolar sob efeito do seu próprio peso.

Espessura do revestimento

Segundo as prescrições da NB-231 "Revestimento de paredes e tetos com
argamassas: materiais, preparo, aplicação e manutenção", a espessura do emboço não deve ultrapassar 2cm e a do reboco 2mm. Observa-se que em alguns casos deslocamento de revestimento de laje de teto o emboço chega a apresentar espessura de 5cm. Este fato, agravado por em traço rico de cimento, não permite que o revestimento acompanhe a movimentação da estrutura, deslocando-se. No reboco, o efeito observado é de desagregação por falta de carbonatação.

Aplicação da argamassa

Para argamassa contendo cimento, se o tempo de endurecimento e secagem da camada inferior não é observado antes da aplicação da camada superior, a retração que acompanha a secagem da camada inferior gera fissuras, com configuração de mapa, na camada superior.

O alisamento intenso da camada de reboco propicia uma concentração de leite de cal na superfície. Por carbonatação , forma-se uma película de carbonato uniforme que age como uma barreira à penetração do anidrido carbônico, impedindo o endurecimento do nterior da camada de revestimento.

Causas decorrentes do tipo de pintura

As tintas a óleo ou à base de borracha clorada e epóxi promovem uma camada
impermeável que dificulta a difusão do ar atmosférico através da argamassa de
revestimento. Se a pintura for aplicada prematuramente, o grau de carbonatação atingido não é suficiente para conferir à camada de reboco a resistência suficiente e este acaba por deslocar-se do emboço com desagregação.



Causas externas ao revestimento

Umidade

A infiltração de água através de alicerces, lajes cobertura mal impermeabilizadas ou argamassas de assentamento magras, manifesta-se por manchas de umidade, acompanhada ou não pela formação de eflorescência ou vesículas. A infiltração constante provoca a desagregação do revestimento, com pulverulência, ou formação de bolor em pontos onde não há incidência de sol.





No caso de tintas impermeáveis, a eflorescência deposita-se entre a camada de tinta e a do reboco, comprometendo a aderência entre ambas. Estas tintas são também responsáveis pela formação de vesículas ou bolhas que resultam da percolação da água através da alvenaria e que se acumula entre o revestimento e a tinta.

Expansão da argamassa de assentamento

Ocorre predominantemente no sentido vertical e pode ser identificada por fissuras horizontais no revestimento (Figuras 9.8, 9.9, 9.10). A expansão da argamassa de assentamento pode ser provocada por reações químicas entre os constituintes desta argamassa ou mesmo entre compostos do cimento e dos tijolos ou blocos que compõem a alvenaria. As causas podem ser as seguintes:

- reação de sulfato do meio ambiente ou do componente da alvenaria com o
cimento da argamassa;

- hidratação retardada da cal dolomitica usada na argamassa de assentamento.



REPAROS

A possibilidade de reparo é função do tipo e extensão do dano existente. Os danos nem sempre aparecem em toda a edificação, mas comumente localizados em pontos onde o fenômeno que os originou é mais favorecido. Nestes casos, a tendência do usuário é executar pequenos reparos, sem a preocupação com a causa. 

Em conseqüência, o fenômeno alastra-se progressivamente, às vezes por um largo tempo, solicitando um reparo constante, talvez antieconômico se comparado a uma execução completa. Por isso mesmo, é necessária a identificação das causas e da extensão do dano para melhor decidir-se sobre a
solução a ser adotada, como segue na Tabela.

Identificação das causas, extensão do dano e solução


Fonte: Técnicas de Construção Civil e de Edifícios (José Antônio de Milito) / http://edificandoonline.blogspot.com/











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